Lançaram-se como se fossem representantes de projetos alternativos, diante do que caracterizavam como abandono desse caminho por parte do PT e do governo Lula ou, no caso, especificamente da Marina, de nĂ£o contemplar as questões ecolĂ³gicas. Ambas tiveram em comum, seja no primeiro turno, seja no segundo, a definiĂ§Ă£o de uma equidistĂ¢ncia entre Lula e Alckmin, no caso de HH, entre Dilma e Serra, no caso da Marina.
Foi um elemento fundamental para que conquistassem as graças da direita – da velha mĂdia, em particular – e liquidassem qualquer possibilidade de construir uma alternativa no campo da esquerda. Era uma postura oportunista, no caso de HH, alegando que Lula era uma continuaĂ§Ă£o direta de FHC; no caso da Marina, de que jĂ¡ nĂ£o valeriam os termos de direita e esquerda.
O fracasso nĂ£o esteve na votaĂ§Ă£o – expressiva , nos dois casos – mas na incapacidade de dar continuidade Ă campanha com construĂ§Ă£o de forças minimamente coerentes. Para isso contribuiu o estilo individualista de ambas, mas o obstĂ¡culo polĂtico fundamental foi outro – embora os dois tenham vinculações entre si: foi o oportunismo de nĂ£o distinguir a direita como inimigo fundamental.
Imaginem o erro que significou acreditar que Lula e Alckmin eram iguais! Que havia que votar em branco, nulo ou abster-se! Imaginem o Brasil, na crise de 2008, dirigido por Alckmin e seu neoliberalismo!
Imaginem o erro de acreditar que eram iguais Dilma e Serra! E, ao contrĂ¡rio de se diferenciar e denunciar Serra pelas posições obscurantistas sobre o aborto, ficar calada e ainda receber todo o caudal de votos advindos daĂ, que permitiu a Marina subir de 10 a 20 milhões de votos?
NĂ£o decifraram o enigma Lula e foram engolidas por ele. O sucesso efĂªmero das aparições privilegiadas na Globo as condenaram a inviabilizar-se como lĂderes de esquerda. Muito rapidamente desapareceram da mĂdia, conforme deixaram de ser funcionais para chegar ao segundo turno, juntando votos contra os candidatos do PT. E, pior, o caudal de votos que tinham arrecadado, em condições especiais, evaporou. Plinio de Arruda Sampaio, a melhor figura do PSOL, teve 1% de votos. Ninguem ousa imaginar que Marina hoje teria uma mĂnima fraĂ§Ă£o dos votos que teve.
Ambas desapareceram do cenĂ¡rio polĂtico. Ambas brigaram com os partidos pelos quais tinham sido candidatas. Nenhuma delas se transformou em lĂder polĂtica nacional. Nenhuma força alternativa no campo da esquerda foi construĂda pelas suas candidaturas.
Haveria um campo na esquerda para uma força mais radical do que o PT, mas isso suporia definir-se como uma força no campo da esquerda, aliando-se com o governo quando ha coincidĂªncia de posições e criticando-o, quando ha divergĂªncias.
O projeto polĂtico do PSOL fracassou, assim como o projeto de construĂ§Ă£o de uma plataforma ecolĂ³gica transversal – que nem no papel foi construĂda por Marina -, reduzindo-as a fenĂ´menos eleitorais efĂªmeros. O campo polĂtico estĂ¡ constituĂdo, Ă© uma realidade incontornĂ¡vel, em que a direita e a esquerda ocupam seus eixos fundamentais. Quem quiser intervir nele tem de tomar esses elementos como constitutivos da luta polĂtica hoje.
Pode situar-se no campo da esquerda ou, se buscar subterfĂºgios, pode terminar somando-se ao campo da direita, ou ficar reduzido Ă intranscendĂªncia.
*Emir Sader Ă© sociĂ³logo e cientista, mestre em filosofia polĂtica e doutor em ciĂªncia polĂtica pela USP – Universidade de SĂ£o Paulo.
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