sĂ¡bado, 3 de dezembro de 2011

#Artigo: Os fracassos de Heloisa Helena e Marina Silva, por Emir Sader

Lançaram-se como se fossem representantes de projetos alternativos, diante do que caracterizavam como abandono desse caminho por parte do PT e do governo Lula ou, no caso, especificamente da Marina, de nĂ£o contemplar as questões ecolĂ³gicas. Ambas tiveram em comum, seja no primeiro turno, seja no segundo, a definiĂ§Ă£o de uma equidistĂ¢ncia entre Lula e Alckmin, no caso de HH, entre Dilma e Serra, no caso da Marina.


Foi um elemento fundamental para que conquistassem as graças da direita – da velha mĂ­dia, em particular – e liquidassem qualquer possibilidade de construir uma alternativa no campo da esquerda. Era uma postura oportunista, no caso de HH, alegando que Lula era uma continuaĂ§Ă£o direta de FHC; no caso da Marina, de que jĂ¡ nĂ£o valeriam os termos de direita e esquerda.

O fracasso nĂ£o esteve na votaĂ§Ă£o – expressiva , nos dois casos – mas na incapacidade de dar continuidade Ă  campanha com construĂ§Ă£o de forças minimamente coerentes. Para isso contribuiu o estilo individualista de ambas, mas o obstĂ¡culo polĂ­tico fundamental foi outro – embora os dois tenham vinculações entre si: foi o oportunismo de nĂ£o distinguir a direita como inimigo fundamental.

Imaginem o erro que significou acreditar que Lula e Alckmin eram iguais! Que havia que votar em branco, nulo ou abster-se! Imaginem o Brasil, na crise de 2008, dirigido por Alckmin e seu neoliberalismo!

Imaginem o erro de acreditar que eram iguais Dilma e Serra! E, ao contrĂ¡rio de se diferenciar e denunciar Serra pelas posições obscurantistas sobre o aborto, ficar calada e ainda receber todo o caudal de votos advindos daĂ­, que permitiu a Marina subir de 10 a 20 milhões de votos?

NĂ£o decifraram o enigma Lula e foram engolidas por ele. O sucesso efĂªmero das aparições privilegiadas na Globo as condenaram a inviabilizar-se como lĂ­deres de esquerda. Muito rapidamente desapareceram da mĂ­dia, conforme deixaram de ser funcionais para chegar ao segundo turno, juntando votos contra os candidatos do PT. E, pior, o caudal de votos que tinham arrecadado, em condições especiais, evaporou. Plinio de Arruda Sampaio, a melhor figura do PSOL, teve 1% de votos. Ninguem ousa imaginar que Marina hoje teria uma mĂ­nima fraĂ§Ă£o dos votos que teve.

Ambas desapareceram do cenĂ¡rio polĂ­tico. Ambas brigaram com os partidos pelos quais tinham sido candidatas. Nenhuma delas se transformou em lĂ­der polĂ­tica nacional. Nenhuma força alternativa no campo da esquerda foi construĂ­da pelas suas candidaturas.

Haveria um campo na esquerda para uma força mais radical do que o PT, mas isso suporia definir-se como uma força no campo da esquerda, aliando-se com o governo quando ha coincidĂªncia de posições e criticando-o, quando ha divergĂªncias.

O projeto polĂ­tico do PSOL fracassou, assim como o projeto de construĂ§Ă£o de uma plataforma ecolĂ³gica transversal – que nem no papel foi construĂ­da por Marina -, reduzindo-as a fenĂ´menos eleitorais efĂªmeros. O campo polĂ­tico estĂ¡ constituĂ­do, Ă© uma realidade incontornĂ¡vel, em que a direita e a esquerda ocupam seus eixos fundamentais. Quem quiser intervir nele tem de tomar esses elementos como constitutivos da luta polĂ­tica hoje.

Pode situar-se no campo da esquerda ou, se buscar subterfĂºgios, pode terminar somando-se ao campo da direita, ou ficar reduzido Ă  intranscendĂªncia.

*Emir Sader Ă© sociĂ³logo e cientista, mestre em filosofia polĂ­tica e doutor em ciĂªncia polĂ­tica pela USP – Universidade de SĂ£o Paulo.

0 comentĂ¡rios:

Postar um comentĂ¡rio

Obrigado por comentar meu blog.
Cadastre seu e-mail e receba atualizações gratuitamente.

Um abraço,

Ricardo Matense