A corrupção é inimiga da informação. Enquanto esta atua às claras,
buscando atingir o maior número de pessoas possível, aquela atua às
escuras, na calada da noite, distante dos holofotes, das câmeras e dos
microfones. Silenciosamente, a corrupção ganha espaço entre quatro
paredes, em meio a licitações, contratos e aditivos que como ralos
servem de escoadores dos recursos públicos num pacto de duas vias.
O
exemplo é dado no caso dos Transportes. Ali, podem haver inocentes e
culpados, mas a falta de instrumentos de publicização leva a
necessidade de envolver grandes estruturas de apuração. Embora desde o
primeiro momento a presidenta Dilma Rousseff tenha tomado todas as
providências que a situação exigia, afastando toda a cúpula do
ministério e aceitando, em seguida, a demissão do ministro Alfredo
Nascimento, a ferida não para de sangrar. A presidenta demitiu 17
pessoas no Ministério dos Transportes, entre diretores do Dnit e da
Valec.
Faltou neste caso, como em tantos outros, transparência administrativa. Se os atos do ministro e dos diretores do Dnit e da Valec fossem
submetidos à apreciação pública, provavelmente o Ministério dos
Transportes não estaria hoje submerso nesta crise administrativa nem
envolto em denúncias de desvios de recursos públicos. Essa
transparência é ofertada pela Lei do Acesso à Informação, que depois de
aprovada pela Câmara dos Deputados desde o mês de maio estamos tentando
aprovar no Senado Federal.
Com medo de fantasmas do passado, o
projeto dorme em gavetas da Comissão de Relações Exteriores sem um
argumento convincente para sustar a sua tramitação. As Forças Armadas
já não temem a divulgação de documentos do período da ditadura militar
(1964-1985) e o Itamaraty disse oficialmente que não faz restrição à
divulgação de qualquer documento relacionado à Guerra do Paraguai e à
compra do Acre da Bolívia, eventos históricos ocorridos ainda no século
XIX.
Se não existe nenhuma ameaça para a segurança nacional, que
pudesse ameaçar as boas relações com os países vizinhos, como
reconhecido pelas autoridades dos Ministérios da Defesa e das Relações
Exteriores, não há porque protelar a aprovação de uma lei que tem por
objetivo resgatar nosso passado para projetar melhor nosso futuro, mas
que é, ao mesmo tempo, importante instrumento de fiscalização do
serviço e dos homens públicos que colocamos à disposição da sociedade.
Caso
a Lei de Acesso à Informação, da qual sou relator no Senado, tivesse
sido aprovada há mais tempo, o país não apenas estaria livre dos
fantasmas do seu passado como também disporia de uma legislação capaz
de coibir – pela publicização de contratos, de aditivos e dos atos da
gestão governamental – casos como esse de denúncia de desvio de
recursos do Ministério dos Transportes e que pode desestabilizar
politicamente uma administração comprometida com a seriedade.
Temos
já uma promessa do presidente José Sarney de colocar em votação a Lei
de Acesso à Informação no próximo mês de setembro, mas vamos tentar
antecipar sua votação já na reabertura dos trabalhos legislativos, que
ocorre em 1º de agosto. Quanto mais cedo a lei entrar em vigor, maiores
são as chances de evitar a repetição de episódios, e até ajudar
gestores para que não cometam erros que possam gerar prejuízos aos
cofres públicos graças ao imenso potencial fiscalizador dessa lei.
Walter Pinheiro é Senador da República. É colunista do site Congresso em Foco.

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