Poucos assuntos tem recebido tanta
abordagem quanto o tema da graça. Sobre ela se fala tudo que se deseja
transmitir, mas quase nunca encontramos abordagens corajosas o
suficiente para falar do escândalo que ela implica. O tema é tratado
quase sempre de maneira estanque. Falamos de gestos graciosos.
Precisamos entender que a graça é o princípio sobre o qual Deus se
relaciona com suas criaturas. Entretanto, o que temos visto é que a
graça parece ser completamente desconhecida para estas criaturas.
Sempre tentamos mitigar o escândalo da graça. Penso que esta é a
principal causa da queda: instaurar em nós uma completa ignorância em
relação à graça. Sem conhecer a graça nunca vamos conseguir nos
relacionar com Deus. E qualquer outra forma de se relacionar com Deus,
à parte da graça, cai necessariamente no legalismo. Não adianta ser
arremedos da graça ou algumas características selecionadas desta; o que
se requer é a graça em sua radicalidade.
O texto do evangelho de João no capítulo oitavo talvez seja o mais eloqüente anuncio da graça que eu conheço. É o conhecido episodio da mulher apanhada em adultério. Dele depreendemos alguns princípios preciosos sobre a graça de Deus. Ali aprendemos que a graça confronta sem contudo expor e envergonhar. Confronta a pecadora consciente do seu pecado e confronta os pecadores que julgam o pecado alheio sem se darem conta que são igualmente carentes da graça. Tudo isso sem transformar essa confrontação em espetáculo ou como prestação de contas a uma sociedade legalista e distante da dimensão divina.
É do texto em apreço que aprendemos que a graça valoriza mais a vida (pessoas) do que os dogmas (convenções). Os fariseus da época de Jesus não eram diferentes dos fariseus da nossa época. Todos adoram se esconder atrás da lei e sacrificar as vidas. Atropelar pessoas em nome das convenções.
Terceiro princípio que o texto evidencia é que a graça é insuportável para os aprisionados pelo legalismo. Para usar uma expressão com aos meios jurídicos, diria que os prisioneiros da lei costumam evadir-se dos locais de manifestação da graça de Deus. Quanto mais envolvidos com os reclames da lei mais estranhos nos parecerá o ambiente encharcado pela graça.
Publicado pelo Pr. AFA Neto em seu blog Canteiro de Inquietudes
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Ricardo Matense