Antes
que fossem concluídos os 30 dias do governo Dilma, estabeleceu-se, em
alguns órgãos da mídia hegemônica, um curioso debate em torno da
personalidade da presidenta, descoberta agora como uma mulher decidida,
capaz, com um estilo próprio, e simultaneamente, o discurso de que ela
rompia com o estilo Lula, e que isso seria muito positivo. Deixava
sempre trair o profundo preconceito contra Lula, pela comparação entre
uma presidenta letrada (que cumprimenta em inglês a secretária Hillary
Clinton...) e o outro, com seu português, essa língua desprezível. Não
se sabe se seriam esquizofrenias da mídia hegemônica, ou táticas
confluentes destinadas a diminuir o extraordinário legado do
presidente-operário e a camuflar a continuidade de um mesmo projeto
político.
Não custa tentar avaliar essa operação.
Durante a campanha, a mídia seguiu a orientação de que Dilma era uma
teleguiada, incapaz de pensar por conta própria. No governo, como era
inexperiente, seria manipulada por Lula. Bem, ocorre que foi eleita. O
que fazer diante da esfinge? Nos primeiros momentos, cobra que ela fale o
tanto que Lula falava. Dilma, que tem estilo próprio, ao contrário do
que a mídia dizia, seguia adiante, sem subordinar-se às cobranças. Toca o
governo com toda firmeza, que é o que importa. Não se rende às
expectativas midiáticas, sinal de uma personalidade forte, muito
distante da figura de fácil manipulação que se tentou esculpir antes.
As coisas estão no mundo, minha nega, só é
preciso entendê-las, é Paulinho da Viola. A mídia não raramente passa
batida diante das coisas que estão no mundo. Ou tenta dar a
interpretação que lhe interessa sobre a realidade já que de há muito se
superou a idéia de um jornalismo objetivo e imparcial por parte de nossa
mídia hegemônica. Todo o esforço para separar Lula e Dilma é inútil.
Parece óbvio isso. Mas, não para a mídia. Ela prossegue em sua luta para
isso. Lula e Dilma, e lá vamos nós com obviedades novamente, são
diferentes. Personalidades diversas. E os estilos de um e de outro
naturalmente não são os mesmos. O que não se pode ignorar é que Dilma dá
continuidade ao projeto político transformador iniciado com a posse de
Lula em 2003. Essa é a questão essencial.
Dilma seguirá com as políticas destinadas a
superar a miséria no Brasil, tal e qual o fez Lula nos seus oito anos
de mandato, coisa que até os adversários reconhecem, e o fazem porque as
evidências são impressionantes. Mexeu-se para melhor na vida de mais de
60 milhões de pessoas, aquelas que saíram da miséria absoluta e as que
ascenderam à classe média. Agora, a presidenta pretende aprofundar esse
caminho, ao situar como principal objetivo de seu mandato combater a
miséria absoluta que ainda afeta tantas pessoas no Brasil. Essa é a
principal marca de esquerda desse projeto: o de perseguir a idéia de que
é possível construir, pela ação do Estado, um país mais justo, que seja
capaz de estabelecer patamares dignos de existência para a maioria da
população. O desenvolvimento tem como centro a distribuição de renda, e o
crescimento econômico deve estar a serviço disso. Aqui se encontram
Dilma e Lula. O resto é procurar pêlo em ovo.
A terrorista cantada em prosa e verso pela
mídia durante a campanha virou agora a heroína dos direitos humanos, e
nós saudamos a chegada da mídia na defesa dos direitos humanos quando se
trata de outros países. Que maravilha, do ponto de vista de pessoas que
amargaram tortura e prisão no Brasil, ver a presidenta recebendo as
Mães da Praça de Maio e se emocionando com elas. E condenando qualquer
tipo de violação dos direitos humanos no mundo.
No caso da mídia, seria muito positivo que
ela também apoiasse a instalação da Comissão da Verdade para apurar a
impressionante violação dos direitos humanos no Brasil durante a
ditadura militar. Foi Lula que encaminhou o projeto da Comissão da
Verdade, apoiando proposta do então ministro Paulo Vannuchi. As últimas
eleições consagraram o projeto político desse novo Brasil que começou em
2003. Dilma está sabendo honrar a confiança que foi depositada nela,
uma digna sucessora de Lula.
Autor: Emiliano José é jornalista, escritor, deputado federal (PT/BA).
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